Portugal contra o mundo
Este ano foi a maior prova de que até ao lavar dos cestos é vindima. Não sou muito de torcer pelo meu clube, mas quando é a seleção em campo eu não sou eu, mal controlo os nervos e emoções. Eu estava a ver a coisa tão mal parada nos primeiros jogos que me quis abster de fazer grandes comentários, preferi fazê-lo no final da participação da seleção, só que estava longe de imaginar que o final só seria agora.
Logo desde o início, o europeu obriga a que o futebol seja rei, os súbditos portugueses decoram as varandas e janelas com bandeiras e ostentam cachecóis na parte traseira dos carros. Criam-se 638 músicas de apoio, fazem-se anúncios televisivos de componente futebolística (o Ronaldo até participa em metade deles), todos os canais têm programas de análise desportiva e fazem-se especiais a acompanhar a seleção. Tudo é notícia, desde o cabeleireiro que fez o penteado do Nani, ao supermercado onde são comprados os alimentos para confecionar as refeições dos jogadores. A não esquecer é claro do incidente do microfone e do directo das buscas e resgate.
O último jogo de preparação de Portugal foi frente à Estónia, uma festança 7-0, os portugueses ficaram cheios de gana. Nos jogos amigáveis Portugal é um leão, nos a valer é um gatinho. A Islândia deveria ter sido um adversário fácil, classificaram-se este ano pela primeira vez para um europeu. Estávamos tão enganados, a entrada não foi com o pé direito. Os jogadores também devem ser fãs de Game of Thrones, é a única explicação, só podem ter ficado intimidados com as ameaças do Montanha. Os trezentos mil habitantes chegaram para baixar a crista aos dez milhões de galos. Contra a Áustria o jogo foi um aborrecimento, com a Hungria um desespero, foi o jogo taco-a-taco, a Hungria marca e tem vantagem, Portugal corre atrás e iguala. Alternamos três vezes entre a desilusão e a euforia, estivemos três vezes fora da competição mas fizemos sempre o caminho de volta. A cumplicidade é tanta até houve a troca de um bilhete entre o selecionador e Cristiano. Passada a fase de grupos, ainda sem vitórias, tornamo-nos os "empatugas", aos poucos fomos alcançando o cada vez mais improvável. Os penáltis no jogo contra a Polónia deixaram-me numa pilha de nervos, foi quando mais acreditei que íamos arrumar as chuteiras.
Como por milagre chegamos á final. Os profetas da desgraça já anteviam uma repetição do Euro 2004. E não é que tinham razão, nesse ano a equipa da casa teve a taça roubada e ontem os franceses tiveram o mesmo destino, para os portugueses quebrou-se a maldição. Ninguém apostava em nós nem a feijões, o mundo espantou-se com a nossa presença na final, já davam o título como certo para França. Ao contrário de todos, Fernando Santos sempre acreditou, não era delírio, era a convicção de que seria possível cumprir um sonho. Disse que só vinha para casa hoje e seria recebido em festa, cumpriu. Mais do que um excelente profissional demonstrou ser um líder espiritual e motivacional para a equipa. Com humildade fomos sempre fintando as criticas a que sempre fomos sujeitos, e usamo-as como escada para subir até à vitória.
Somos a seleção à rasca, representa bem o espírito do português, faz tudo em cima do joelho e sem margem de manobra. Como veio sendo hábito, excepto uma vez, os 90 não nos chegaram, o golo veio aos 109 minutos pelos pés do improvável e subestimado Éder. Houve mesmo um atentado em campo #PrayforParis, a bomba rebentou na baliza dos franceses, não foi um golo de sorte, mijadinho, foi um golaço. Que digam que Portugal não joga nada e não merece o titulo, não interessa, dos merecedores não reza a história, esta escreve-se pelos vencidos e vencedores. E o que fica é que Portugal venceu no dia 10 de Julho de 2016 o seu primeiro título de campeão europeu. É essa a mensagem dos dégueelasses (nojentos) ao mundo, ainda não receberam a carta.
E os franceses...
nem acreditam na derrota, já tinham tudo preparado para a celebração. Este autocarro foi apanhado nas ruas pouco movimentadas de Paris ainda antes do jogo. Deixem lá ainda o podem usar daqui a 12 anos, é só mudar a pintura. É para aprenderem a nunca cantarem vitória antes do tempo, que pode sempre haver prolongamento.
Hoje a derrota estampa todos os jornais.
Como tinha acontecido sempre a Torre Eiffel tem ostentado as cores da bandeira de equipa vencedora. Em vez disso, ontem, foi iluminada com as cores de França por uns cinco minutos e depois ficou totalmente apagada, deduzo que pelo luto da seleção. Mais tarde vi notícias que as cores da bandeira lusa tinham sido cobrido o gigante de ferro, mas não, eram falsas. Para quê indignarmo-nos se também temos uma torre, esta que é só nossa.
O regozijo dos Portugueses