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Saidinha da casca

O blog pessoal de uma aprendiz da vida. Espaço de partilha de devaneios, teorias sensacionalistas, gostos, ideias, curiosidades e opiniões pertinentes sobre tudo, nada e mais um pouco.

Saidinha da casca

O blog pessoal de uma aprendiz da vida. Espaço de partilha de devaneios, teorias sensacionalistas, gostos, ideias, curiosidades e opiniões pertinentes sobre tudo, nada e mais um pouco.

Óla e adeus

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Esta é uma mensagem a todas as almas perdidas que vêm parar a este blog: este recanto está estagnado desde o ano passado mas não morreu e espero que em meados de Setembro volte com maior vigor que nunca. Falta o tempo, mas não as ideias ou o gosto pela escrita. O tanto que me apetece escrever e desabafar sobre algumas coisas que de certo modo fazem com que algumas pessoas que estão aí desse lado não se sintam solitariamente tão neuróticas, obsessivas ou paranóicas quanto eu na altura da defesa da tese, apenas me consome a alma e os nervos pensar que deveria estar a produzir o meu manuscrito em vez deste blog. Até lá aguenta coração.

As diferentes construções da amizade

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Eu sempre soube que quando fosse pela primeira vez para a universidade ia sozinha, não estava à espera de encontrar sequer uma cara familiar, e assim foi. Tinha consciência de que a primeira semana seria a mais importante para começar a cimentar novas amizades na mesma situação que eu, pessoas sozinhas, longe de casa e perdidas. Não sei dizer ao certo como comecei, no ano de caloira, as amizades que tenho em Coimbra. Foi quase como coisa de crianças que se encontram frente a frente e depois de uns segundos decidem ser amigos e brincar juntos, às vezes ainda antes de saberem os nomes uns dos outros. Foi assim que tudo aconteceu, fluiu tudo tão naturalmente, o que é raro, porque há medida que crescemos vamos escolhendo o tipo de interações a ter com pessoas selecionadas quase a dedo. Se foram as circunstâncias, espírito académico ou simplesmente essência das pessoas nunca saberei. Sem querer entrar aqui em grande debate do assunto, em parte atribuo um bocadinho da culpa às praxes, porque digam o que disserem nada é melhor para aproximar os caloiros do que falar mal de quem nos manda pôr de quatro.

 

É claro que as amizades antigas não estavam perdidas. Quando passava os fins de semana na terrinha ia falando com amigos e colegas que encontrava ao acaso nos locais que frequentávamos habitualmente, trocávamos impressões de como estava a correr a nova vida. Com as minhas amigas mais próximas tínhamos a promessa explícita de nos irmos falando, mesmo que pouco, mesmo que ao longe. Era um compromisso feito com a melhor das intenções, cheio de vontade, mas a vida está sempre no meio dos nosso planos. Atarefados passamos a ir menos a casa, quando vamos é para repousar da semana e por vezes nem isso se consegue fazer tal o atulhamento de trabalho. Os amigos são vistos com menos frequência e perdemos o contacto simplesmente por força das circunstâncias. Muitas vezes surge o desejo de retomar o contacto, mas o constrangimento causado pela passagem de tempo impede-nos de tomar qualquer ação, mesmo que este sentimento impulsionado pela saudade seja mútuo. Os caminhos da vida alongam-se cada vez mais, ao percorrê-lo tornámo-nos noutras pessoas, há o medo de aqueles que outrora conhecemos não sejam mais os mesmos. De certa forma, esta constatação pode assombrar as nossas memórias mais felizes de momentos vividos em conjunto. A mim custa-me bastante arriscar no campo do retomar da amizade. Está na altura de me expor mais, acredito que à medida que avançamos na vida adulta se torne cada vez mais difícil fazer e manter amizades, por isso resta-nos conservar aquelas que ainda temos, mesmo que tenuamente. Este ano, logo no segundo dia de aulas, encontrei um amigo com o qual já não tinha contacto há alguns anos, a troca de palavras foi breve mas no mesmo registo de sempre, como se o tempo não tivesse interferido, não houve nenhuma estranheza, a amizade continua presente.  

 

Uma lufada de ar fresco

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Não é à toa que dizem que no meio é que está a virtude, na quarta-feira tive a melhor notícia dos últimos meses, quem sabe, até anos, fui colocada no mestrado e na universidade que queria. E logo à primeira tentativa, quando já estava a antever rejeição e novas candidaturas para outras instituições. Hoje já estive a selecionar as cadeiras e a fazer a inscrição. Esta notícia tira o maior peso que poderia descansar sobre os meus ombros, a incerteza. Sei exactamente o que vou fazer nos próximos dois anos, a construir mais um degrau para construir uma carreira. A janela é ampliada para uma porta, as poucas oportunidades passam para algumas. Porque uma licenciatura não chega e, dependendo da área a especialização é tudo, é a própria profissão. 

 

Passei tanto tempo a tentar procurar bolsas científicas ou laboratórios para trabalho voluntário, o tal trabalho escravo que envergonha a classe, mas obrigatório para os recém licenciados adquirirem currículo, tudo sem resposta ou quando tinha era negativa. A pressão era mais que muita, depois de meses em casa, começa um rol de perguntas, julgamentos e comentários, desde a vizinha de cinco casas à frente, a prima afastada dos avós, até a esteticista, todos querem saber do "e agora, o que vais fazer?". Como se a minha situação não bastasse por si só ainda tinha de ter pachorra para aturar quem me vinha buzinar aos ouvidos. Já me sentia inútil que chegasse por mim mesma, sem ter os outros a incutir-me o mesmo sentimento, uma pessoa em casa dá em doida. Agora é chapada de luva transparente em quem não acreditou no carácter temporário da minha situação. Tento sempre estar um passo mais à frente, se não continuasse a minha formação este ano já tinha delineado um plano B. 

 

Eu posso não conhecer a pessoa em causa, mas a minha avó vai buscar como exemplo toda e qualquer rapariga na faixa dos 20, num raio de 10km com um canudo na mão. É a filha da vizinha que tirou um curso numa universidade privada, sem empregabilidade foi tirar outro, desta vez enfermagem (a coisa também não está melhor), agora faz limpezas umas horas por dia. A prima da filha de outra vizinha tinha média para entrar em medicina, a família não podia pagar um curso tão longo, é licenciada em enfermagem, nunca exerceu, trabalha como caixa no continente. O irmão de uma amiga minha arranjava-lhe emprego, a rapariga não quer emigrar. Uma colega minha de secundário acabou na mesma altura que eu o curso de engenharia biomédica, quer continuar os estudos, mas para ganhar dinheiro extra também trabalha como caixa. 

 

Eu sei que nem todas as pessoas são iguais, mas inquieta-me que gente tão nova ponha em stand-by indefinidamente três ou quatro anos das suas vidas gastos em aprendizagem, que depois não põem em prática. Depois acomodam-se neste empregos sem qualificação requerida e o tempo corre e já vai longe, sendo impossível alcançar aquilo que lutamos para construir. Obviamente que não estou a criticar nenhum emprego, nos dias que corre é uma sorte ter uma fonte de rendimento, todos devemos lutar para ganhar a vida. Mas há falta de coragem para lutar e arriscar, o momento é agora, enquanto somos jovens, ainda com margem de manobra para errar. Também há famílias que querem os jovens sempre no ninho, não querem nem ouvir falar em emigrar, sofrem mais do que os próprios. Eu idealizo o que quero fazer para o resto da vida, que profissional me tornarei e vou dar tudo de mim para lá chegar, só não quero é estagnar, se tiver de ir para o mundo irei, com pesar de cá deixar os meus. Nada é definitivo, Portugal não dá valor a nada do que tem, incluindo os seus cientistas, ser alguém lá fora e voltar é possível e mais comum na ciência do que em qualquer outra área, é mais fácil aceder a bolsas de doutoramento no resto da Europa do que neste cantinho. Mas antes de pensar numa hipótese para já tão remota vou-me concentrar no agora e nesta conquista. 

A morrer de ansiedade

Acabei a tarefa literária mais hercúlea da minha vida, escrevi uma carta de motivação para uma candidatura a mestrado. A dificuldade está em dizer que quero muito, muito, muito aquele curso sem entrar no desespero, de ser bajuladora, pedinchas, ou usar aquelas frases pomposas, que dão a entender que foram pescadas de outro lugar sem ser a minha cabecinha. Espero ter conseguido. Durante o processo de candidatura já estava a antever a rejeição, fiquei tão mal disposta, enjoada, com uma dor de cabeça como há muito não tinha. Depois veio o choque 50€ só pela candidatura, se não entrar além de me desfazer em lágrimas e ódio próprio ainda fico mais pobre. E se não for colocada lá vou eu torrar mais dinheiro, cabecinha e coraçãozinho noutra candidatura. Agora a fase do pessimismo passou momentaneamente, mas vou andar a alternar o estado de espírito mais frequentemente que um bipolar. Vou andar a sofrer dezassete dias pelos resultados, se entretanto já não tiver morrido porque esta pobre alma não aguenta tanta incerteza.

 

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