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Saidinha da casca

O blog pessoal de uma aprendiz da vida. Espaço de partilha de devaneios, teorias sensacionalistas, gostos, ideias, curiosidades e opiniões pertinentes sobre tudo, nada e mais um pouco.

Saidinha da casca

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O fim da Cristina

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Não é segredo nenhum que não sou grande fã da revista da Cristina. Eis que o projeto chega ao fim este mês, dois anos depois do seu lançamento, envolto no que os jornais e revistas chamam de "polémica". Na verdade a palavra certa é mistério, as razões do fecho não são conhecidas. A editora da revista destaca os bons números de vendas, e o contentamento com a parceria, então porquê o fecho? A imprensa cor-de-rosa fala-se de salários em atraso, despedimentos e guerras com a editora. Parece-me que os motivos nunca irão ser revelados, aconteceu o que tinha de acontecer, ponto. Para os envolvidos na publicação e para muito do público acredito que tenha sido muito satisfatório.

A apresentadora joga a bola para a frente sem lamúrias "E se isto acabar? O que vier será melhor". Sigam o exemplo de quem sabe. Enquanto que por cá se especula a Cristina curte, num timing perfeito, umas férias luxuosíssimas na Tailândia, desembolsar quase setecentos euros por dia não é para todos (queria eu ter amigas assim para me levar para destinos destes).

Entretanto já foi revelada a capa da última edição. O rei do Carnaval português, Alberto João Jardim é a última figura de destaque numa capa bem alusiva ao tema, com muita classe e imponência. Não seria das minhas primeiras apostas. Esperava o fechar de um ciclo uma introspeção, um rewind do que foram estes dois anos, com a Cristina apresentadora e a equipa da Cristina revista (há que especificar).

 

José Cid e a permanência das palavras

 

Não sou a única na onda das polémicas recessegas, o Facebook acordou para a entrevista a José Cid feita por Nuno Markl há seis anos, para o canal Q, retransmitida por estes dias. Entre outros formosos elogios o cantor disse que as pessoas de Trás-os-montes são "medonhas, feias, desdentadas". Olha só o roto a falar mal do esfarrapado, não há espelhos em casa, pois não. O José Cid sofre da doença do Hitler que considerava as pessoas de raça ariana, altas, de cabelos e olhos claros, superiores às outras, ele próprio era baixo, gordo, de cabelos e olhos escuros. O cantor também que se deixe estar que não caminha para galã. “Costumo dizer que devíamos construir uma muralha da China em Trás-os-Montes, para não deixar passar alguma música que vem de lá”. A música do José Cid também culturalmente não é nada interessante, "como o macaco gosta de banana eu gosto de ti" é tudo menos poético. "Essas pessoas do Portugal profundo já deveriam ter evoluído. Tenho discussões com pessoas que nunca viram o mar e nunca foram ao Pavilhão Atlântico". O José é que deveria ter evoluído e não dizer estas palermices, mas a idade tem destas coisas. Eu também nunca fui ao Pavilhão Atlântico mas não sou nenhuma pacóvia, até já saí de Portugal várias vezes.

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Compreendo que os transmontanos se tenham sentido ofendidos, se eu habitasse nessas terras também me tinha sentido assim. A Alfândega da Fé cancelou o concerto do músico, muito bem, eu não convido para minha casa oferecendo cházinho e bolos quem me insulta. Agora que todo o país entre no mantra #somostodostrasosmontes e, tal como a personalidade com que se indignam, despejem a primeira barbaridade que lhes vem à tola nas redes sociais não ajuda em nada a enaltecer a região. Estão apenas a tentar manter-se nesta espécie de moda, a de seguir as correntes de insultos nas redes sociais. Que a entrevista foi de muito mau gosto e falta de respeito foi. Mas chegar ao ponto de ameaçar alguém de morte é demais, anda por aí muita gente a abusar da liberdade de expressão que tem. O cantor já pediu desculpa por uma coisa que provavelmente nem se lembrava de ter dito. Se fosse agora será que diria o mesmo? nunca saberemos.

 

A revista da Cristina

Eu sei que venho com mais de um ano de atraso, mas só este mês li pela primeira vez a revista da Cristina Ferreira. Já me tinha atualizado há mais tempo ali mesmo na secção de literatura do Continente se a sacana não tivesse tão bem embrulhadinha. Primeiro porque não me despertou muito interesse, as revistas mensais nunca têm aquilo que mais gosto, novidades moderadamente frescas (porque nada bate a atualidade da internet) ou as últimas fofocas, salva-se a dignidade ao não mencionar nenhum dos programas da Teresa Guilherme. Depois porque é cara, 3€ por uma revista é muito, mesmo que tenha uma grossura considerável. Só li porque não tive de a pagar, resgatei-a da mesa abandonada na pastelaria, e foi intercalada com umas garfadas de bolo.

 

As capas são sempre polémicas, há quase sempre nudez ou insinuações da mesma, a única respeitosamente apresentável foi a primeira, com o Marcelo Rebelo de Sousa quando ainda era tratado por professor. O nome da revista soa muito egocêntrico, o nome próprio da pessoa que a criou, e depois é péssimo quando se quer fazer um artigo de critica num blog, tanta repetição de Cristina, irra. Todo Portugal sabe quem é esta personalidade, não é preciso chapá-la em todas as capas em que há espaço. É mais fácil descobrir o Wally do que uma publicação que não tenha a fotografia da apresentadora na capa ou no conteúdo, ainda mais difícil é descobrir um frase escrita pela mesma. 

 

O que me leva ao conteúdo, um paragrafo no meio de uma página em branco em tamanho de letra para cima de vinte, intercaladas por uma página de publicidade, mais dez de sessões fotográficas que desempenham fracamente a secção de moda, porque é mais publicidade travestida, mais uma versão de artigo constituído pelas fotos dos bastidores de quê? da sessão fotográfica da capa, claro, o que mais haveria de ser. A tal intimidade exposta dos entrevistados de que a Cristina se tanto gaba é a do corpo.

 

No fim de ler esfolhar fui ler o edital, ver quantos funcionários eram precisos para fazer aquela revista, para fazer aquilo num mês deveria corresponder ao trabalho de umas três pessoas. não me enganei muito, a revista que li teve os seus textos produzidos por três jornalistas e cinco fotógrafos. 

 

Resta saber onde se enquadra esta publicação, não é uma revista de moda, nem um catalogo da Oriflame, está lá no meio. Leio muito mais texto e com mais interesse o jornal do Lidl, esse sim com menos publicidade. E dizem que a revista é a Cristina, a sua alma, espero que na realidade a pessoa não seja tão vazia e desinteressante como o papel. Não perdi nada em ter ficado tanto tempo na ignorância, acho que sou imune à febre Cristina Ferreira, que há anos assola o país. 

 

Joana Vasconcelos: no campo de férias

 

 

A Plataforma de apoio aos refugiados lançou a campanha "E se fosse eu?", para pensarmos como seria se estivéssemos na pele de milhares de refugiados, e, ao sermos obrigados a fugir do nosso país, podendo levar apenas uma mochila, que itens escolheríamos. O desafio tem sido lançado a figuras públicas e mais recentemente à artista plástica, Joana Vasconcelos.

A resposta de como seria se fosse a Joaninha a voar para fora do seu país está a fazer correr rios de tinta. Começando pelo princípio, claro está, eu não sou perita em luta pela sobrevivência, mas imagino que seja um trabalho a tempo inteiro, talvez não tenha muito tempo de lazer para desenhar ou ouvir música, mas cada um sabe as suas prioridades. Se fosse eu, também levava os gadgets electrónicos, porque ir com a minha família para o meio de uma multidão, com possibilidade de nos perdermos uns dos outros o telemóvel tornava-se uma obrigatoriedade. E claro que também levava o tablet, mesmo sabendo que nos campos não há acesso à internet, mas como não vivemos no século passado e hoje a informação é poder, os refugiados não estão propriamente a fazer uma travessia pelo deserto, alguma coisinha havia de se arranjar. Mas os gadgets vêm com outra amarra, não há eletricidade, vai carregar todos os ai`s como? Se calhar um carregador portátil a pilhas não seria má ideia. Agora os óculos de sol, pára tudo, porque isso sim é de extrema importância. Ao ler a frase destacada nas notícias "Joana Vasconcelos versão refugiada:levava todas as jóias", não me pareceu uma ideia nada absurda, aliás achei que era muito bem pensado, serviriam de moeda de troca, para obter algum transporte, abrigo ou comida. No vídeo "jóias portuguesas", ãhhm, à que ter em atenção a nacionalidade das mesmas, transparece mais sentimentalismo do que praticidade, mas se deixamos para trás tudo o que alguma vez conhecemos para navegar rumo ao desconhecido, um pouco de sentimentalismo é mais do que natural. Ainda que aí pelo meio esperava ver uma estatueta do galo de Barcelos. Espero bem que as lãs sejam para tricotar um cobertor ou um casaquito, em vez de qualquer obra de arte em tricot. Fora isso, estou muito interessada em saber qual é a "qualquer eventualidade" que poderá requerer a indispensável intervenção das agulhas.

 

Esta listinha do que levava na mochila está a causar a ira e revolta dos portugueses porque não há nem menção dos bens de primeira necessidade: água, comida desidratada (de preferência, pelo pouco peso e espaço), mudas de roupa, um impermeável, materiais de primeiros socorros, uma lanterna, um isqueiro, pilhas, algum dinheiro, ... isto pensando muito geralmente. E, como disse no campo das tecnologias eu subscrevo, e duvido que qualquer outro português não pensasse igual, o vosso problema é com a Apple. A Joana Vasconcelos faz uma lista de quem vai de férias num interrail pela Europa e não para um campo de refugiados. Quanto a tudo, mostra um alheamento e falta de noção da realidade, uma falta de empatia em estar na pele dos outros, e obviamente os portugueses manifestam-se. Com toda a polémica já estou a ver a verdadeira utilidade das agulhas, só vão dar jeito para cavar o buraco onde a Joana se devia ir enfiar até vir uma próxima polémica a dar lugar a esta.