A Plataforma de apoio aos refugiados lançou a campanha "E se fosse eu?", para pensarmos como seria se estivéssemos na pele de milhares de refugiados, e, ao sermos obrigados a fugir do nosso país, podendo levar apenas uma mochila, que itens escolheríamos. O desafio tem sido lançado a figuras públicas e mais recentemente à artista plástica, Joana Vasconcelos.
A resposta de como seria se fosse a Joaninha a voar para fora do seu país está a fazer correr rios de tinta. Começando pelo princípio, claro está, eu não sou perita em luta pela sobrevivência, mas imagino que seja um trabalho a tempo inteiro, talvez não tenha muito tempo de lazer para desenhar ou ouvir música, mas cada um sabe as suas prioridades. Se fosse eu, também levava os gadgets electrónicos, porque ir com a minha família para o meio de uma multidão, com possibilidade de nos perdermos uns dos outros o telemóvel tornava-se uma obrigatoriedade. E claro que também levava o tablet, mesmo sabendo que nos campos não há acesso à internet, mas como não vivemos no século passado e hoje a informação é poder, os refugiados não estão propriamente a fazer uma travessia pelo deserto, alguma coisinha havia de se arranjar. Mas os gadgets vêm com outra amarra, não há eletricidade, vai carregar todos os ai`s como? Se calhar um carregador portátil a pilhas não seria má ideia. Agora os óculos de sol, pára tudo, porque isso sim é de extrema importância. Ao ler a frase destacada nas notícias "Joana Vasconcelos versão refugiada:levava todas as jóias", não me pareceu uma ideia nada absurda, aliás achei que era muito bem pensado, serviriam de moeda de troca, para obter algum transporte, abrigo ou comida. No vídeo "jóias portuguesas", ãhhm, à que ter em atenção a nacionalidade das mesmas, transparece mais sentimentalismo do que praticidade, mas se deixamos para trás tudo o que alguma vez conhecemos para navegar rumo ao desconhecido, um pouco de sentimentalismo é mais do que natural. Ainda que aí pelo meio esperava ver uma estatueta do galo de Barcelos. Espero bem que as lãs sejam para tricotar um cobertor ou um casaquito, em vez de qualquer obra de arte em tricot. Fora isso, estou muito interessada em saber qual é a "qualquer eventualidade" que poderá requerer a indispensável intervenção das agulhas.
Esta listinha do que levava na mochila está a causar a ira e revolta dos portugueses porque não há nem menção dos bens de primeira necessidade: água, comida desidratada (de preferência, pelo pouco peso e espaço), mudas de roupa, um impermeável, materiais de primeiros socorros, uma lanterna, um isqueiro, pilhas, algum dinheiro, ... isto pensando muito geralmente. E, como disse no campo das tecnologias eu subscrevo, e duvido que qualquer outro português não pensasse igual, o vosso problema é com a Apple. A Joana Vasconcelos faz uma lista de quem vai de férias num interrail pela Europa e não para um campo de refugiados. Quanto a tudo, mostra um alheamento e falta de noção da realidade, uma falta de empatia em estar na pele dos outros, e obviamente os portugueses manifestam-se. Com toda a polémica já estou a ver a verdadeira utilidade das agulhas, só vão dar jeito para cavar o buraco onde a Joana se devia ir enfiar até vir uma próxima polémica a dar lugar a esta.