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Saidinha da casca

O blog pessoal de uma aprendiz da vida. Espaço de partilha de devaneios, teorias sensacionalistas, gostos, ideias, curiosidades e opiniões pertinentes sobre tudo, nada e mais um pouco.

Saidinha da casca

O blog pessoal de uma aprendiz da vida. Espaço de partilha de devaneios, teorias sensacionalistas, gostos, ideias, curiosidades e opiniões pertinentes sobre tudo, nada e mais um pouco.

Óla e adeus

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Esta é uma mensagem a todas as almas perdidas que vêm parar a este blog: este recanto está estagnado desde o ano passado mas não morreu e espero que em meados de Setembro volte com maior vigor que nunca. Falta o tempo, mas não as ideias ou o gosto pela escrita. O tanto que me apetece escrever e desabafar sobre algumas coisas que de certo modo fazem com que algumas pessoas que estão aí desse lado não se sintam solitariamente tão neuróticas, obsessivas ou paranóicas quanto eu na altura da defesa da tese, apenas me consome a alma e os nervos pensar que deveria estar a produzir o meu manuscrito em vez deste blog. Até lá aguenta coração.

Conversas alheias

Acordar para enfrentar uma segunda-feira com um longo dia pela frente é mau, ouvir o afrontamento que me chegou aos ouvidos é ainda pior.

- Esta semana passa rápido, são só três dias. Esta e a próxima.

- E estudar?

- Estudar? Ha ha ha ha, estudar...

E eu que em duas semanas tenho dois trabalhos e um teste com um molho de folhas para estudar da grossura de dois dedos, nem quero imaginar como seria se as quintas não fossem feriado.

Setembro é o meu ponto de viragem

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Setembro é para mim o mês de maiores mudanças, qual ano novo qual quê. Muitas pessoas voltam ao trabalho, eu volto ao estudo. Já é entusiasmante começar um ano letivo, mas esta semana comecei um novo ciclo de estudos, numa universidade diferente na cidade que já me é familiar, com caras novas, professores e colegas. Volto a ter horários, a criar uma rotina, gosto da organização e planeamento que esta nova fase implicam, de voltar a ser mais dona de mim mesma. Falei aqui do que esta nova fase significa para mim, do novo fôlego que ia ganhar.

 

Tive uma aula em que saí mais confusa do que o que entrei. O funcionamento das coisas é muito dinâmico e claro que tudo está organizado para nos tornarmos auto-suficientes. Isto é bom, assusta, como tudo o que é novidade, mas crescer é isto mesmo, só quer dizer que estou a viver a minha vida como é suposto. Logo no primeiro dia surgem os problemas, não dependem de mim mas calhou-me. É a universidade que ainda não acordou e faz as coisas meia a dormir. Tenho duas aulas sobrepostas, uma obrigatória, outra opcional, os horários não serão ajustados, fui gentilmente obrigada  a fazer inscrição a outra cadeira entes que o prazo acabe e eu tenha de pagar por isso. E o tempo extra que pensava que ia ter, porque ah e tal, são menos aulas há cursos em que são só ao fim de semana, nã nã ni nã nã, são aulas de manhã e de tarde todos os cinco dias da semana e os furos são para me enfiar no laboratório para uma prática de qualquer disciplina. Ainda ando às aranhas, meia perdida pelas ruas, sem saber ao certo o que está em cada esquina. Não estou sozinha nestas situações. E as saudades da mudança compensam e justificam tudo. A vida é mesmo resolver os percalços que nos aparecem, cumprir prazos, carregar responsabilidades e obrigações, pelo meio procuramos construir a nossa felicidade.  

 

Com a casa às costas

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 Hoje a minha viagem para Coimbra foi mais ou menos assim.

 

Ontem o dia foi intenso e trabalhoso, tive de reunir, preparar e arrumar tudo para levar para a faculdade. Hoje estava a ver que eu é que não cabia no carro. Foram tantas as tralhas a trazer, roupa e calçado de verão e algumas das coisas mais grossas de inverno, roupa de cama também para as duas estações, toalhas, panelas e loiça, pequenos eletrodomésticos como portátil, secador, televisão, aquecedor, ..., trouxe tudo, só faltou o gato. É quase mudar uma casa para dentro de um quarto. Isto já é muito para uma pessoa "normal", para mim então que tenho a mania de que preciso tudo e mais alguma coisa, carrego a casa toda de viagem, é uma enormidade. Foram horas de limpeza e arrumos. Hoje descanso porque amanhã começa outra canseira.

 

Dicas para universitários à procura de casa

A época que se segue é de ansiedade para os jovens, é muita mudança e informação ao mesmo tempo para quem vai cair de pára-quedas num mundo novo. Eu quando fui para a universidade tinha muito pouca noção das coisas, fiz tudo na base da intuição e safei-me. Já não sou principiante nestas andanças da preparação da mudança para a universidade, mas este ano a experiência não me ia livrando de problemas na escolha da casa. Futuros caloiros ou pais deixo algumas dicas que podem ser úteis na tarefa de encontrar um novo ninho, não é uma ciência exata, valem o que valem.

 

 

Para quem fica colocado na universidade pela primeira vez e vai à procura de casa, façam-no o mais antecipadamente possível, logo a seguir à divulgação dos resultados, porque não se iludam, é uma corrida, vem sempre gente atrás e à frente, quem não fica logo com a casa que gosta às vezes perde-a. A celeridade aplica-se para fazer as matrículas, há sempre muita gente e o processo ainda é demorado. Eu como sou de longe no primeiro ano fiz tudo, foi muito cansativo, mas é possível.

 

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Uma universitária à procura de casa

Na quinta feira fui a Coimbra com a minha mãe, a quem praticamente exigi presença, à procura de quarto para alugar no próximo ano letivo. Quis ir antes da invasão que se segue após os resultados das candidaturas para as licenciaturas e da segunda fase dos mestrados.

 

Pelo caminho, de duas horas de viagem até Coimbra, ouvi as notícias de tempo manhoso com chuviscos e orvalho para várias zonas do país, incluindo também a cidade dos estudantes. Mas quando cheguei, por volta das 10:30h, não havia sinal de chuva. Começamos logo por ir ao sítio da faculdade para a partir daí ir alargando na procura. Seguimos as ruas mais acima do meu departamento e andamos, andamos, andamos e nada, para nosso azar começou a chover, aquela chuva de que eu não sentia falta nenhuma, frequente, em abundância mas em pingos finos (daqueles facilmente levados pelo vento) que demoram até despejar as nuvens. A hora do almoço aproximava-se, o tempo escaçeava e eu estava cada vez mais preocupada em não arranjar casa, em que buracos se enfiavam tantos estudantes.

 

Enfardei uma pizza ao almoço que lá me deu animo e um novo folêgo. Bora para as ruas que dão acesso à Praça da República. Os anúncios de aluguer começavam a aparecer nas janelas como o musgo nas árvores. Por volta das 17h, com a minha mãe quase a desfalecer, tinha à escolha duas casas. A primeira era nova, tinha sido recentemente mobilada, pequenina, e sem despesas incluidas, a partilhar com duas raparigas. A segunda era mais velha, o preço incluia despesas e mesmo assim era mais barata que a outra, era ligeiramente mais perto. O fogão era pequeno, mas for isso o maior senão é que a senhoria vivia na casa, os dois andares não tinham divisão, a entrada era comum. Ora pensei eu, para uma senhora já com uma certa idade (sessenta e picos, talvez) viver numa rua tão cheia de bares e discotecas, que teve no ano anterior todos os quartos alugados não deve ser assim tão chata, e lá me decidi por esta última casa.

 

Objetivo cumprido, antes de voltar a apanhar o último expresso para casa, das 18:30h, ainda deu tempo de parar pela Nut e deliciarmonos com um nutkebab (basicsamente um crepe com nutela, gelado de avelã, raspas de chocolate e toping de chocolate, uma receita a incluir em qualquer dieta ter um corpo de verão).

 

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Na sexta feira é que a coisa deu para o torto. A minha mãe sempre com uma intuição apurada ligou para a senhoria, para nossa surpresa a senhoria vive com o marido, nós sempre assumimos que fosse viúva. Alto e pára o baile, dividir a casa com um homem estranho NEM pensar, porque quem nunca se esqueceu de nada no caminho quarto - casa de banho e andou de um lado para o outro em trajes menores, hã.

 

Lá estava eu outra vez sem casa, voltar a Coimbra tão cedo estava fora de questão. Mas depois lembrou a minha mãe, havia um quarto para alugar no apartamento ao lado do outro entre o qual pensei escolher, mas quando lá estive a senhoria não estava e não vi a casa. Durante o fim-de-semana a senhora enviou-me fotos recentes, algumas dúvidas foram respondidas e eu fiquei agradada, era perto, relativamente novo e muito mais barato (a senhoria não passava recibo). Na segunda feira tomei a decisão e tratei dos promenores e ontem fiz o pagamento do aluguer do mês de Setembro. Sinceramente se tivesse visto a casa antes teria-me decidido por esta, no final tudo correu pelo melhor.

 

Uma lufada de ar fresco

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Não é à toa que dizem que no meio é que está a virtude, na quarta-feira tive a melhor notícia dos últimos meses, quem sabe, até anos, fui colocada no mestrado e na universidade que queria. E logo à primeira tentativa, quando já estava a antever rejeição e novas candidaturas para outras instituições. Hoje já estive a selecionar as cadeiras e a fazer a inscrição. Esta notícia tira o maior peso que poderia descansar sobre os meus ombros, a incerteza. Sei exactamente o que vou fazer nos próximos dois anos, a construir mais um degrau para construir uma carreira. A janela é ampliada para uma porta, as poucas oportunidades passam para algumas. Porque uma licenciatura não chega e, dependendo da área a especialização é tudo, é a própria profissão. 

 

Passei tanto tempo a tentar procurar bolsas científicas ou laboratórios para trabalho voluntário, o tal trabalho escravo que envergonha a classe, mas obrigatório para os recém licenciados adquirirem currículo, tudo sem resposta ou quando tinha era negativa. A pressão era mais que muita, depois de meses em casa, começa um rol de perguntas, julgamentos e comentários, desde a vizinha de cinco casas à frente, a prima afastada dos avós, até a esteticista, todos querem saber do "e agora, o que vais fazer?". Como se a minha situação não bastasse por si só ainda tinha de ter pachorra para aturar quem me vinha buzinar aos ouvidos. Já me sentia inútil que chegasse por mim mesma, sem ter os outros a incutir-me o mesmo sentimento, uma pessoa em casa dá em doida. Agora é chapada de luva transparente em quem não acreditou no carácter temporário da minha situação. Tento sempre estar um passo mais à frente, se não continuasse a minha formação este ano já tinha delineado um plano B. 

 

Eu posso não conhecer a pessoa em causa, mas a minha avó vai buscar como exemplo toda e qualquer rapariga na faixa dos 20, num raio de 10km com um canudo na mão. É a filha da vizinha que tirou um curso numa universidade privada, sem empregabilidade foi tirar outro, desta vez enfermagem (a coisa também não está melhor), agora faz limpezas umas horas por dia. A prima da filha de outra vizinha tinha média para entrar em medicina, a família não podia pagar um curso tão longo, é licenciada em enfermagem, nunca exerceu, trabalha como caixa no continente. O irmão de uma amiga minha arranjava-lhe emprego, a rapariga não quer emigrar. Uma colega minha de secundário acabou na mesma altura que eu o curso de engenharia biomédica, quer continuar os estudos, mas para ganhar dinheiro extra também trabalha como caixa. 

 

Eu sei que nem todas as pessoas são iguais, mas inquieta-me que gente tão nova ponha em stand-by indefinidamente três ou quatro anos das suas vidas gastos em aprendizagem, que depois não põem em prática. Depois acomodam-se neste empregos sem qualificação requerida e o tempo corre e já vai longe, sendo impossível alcançar aquilo que lutamos para construir. Obviamente que não estou a criticar nenhum emprego, nos dias que corre é uma sorte ter uma fonte de rendimento, todos devemos lutar para ganhar a vida. Mas há falta de coragem para lutar e arriscar, o momento é agora, enquanto somos jovens, ainda com margem de manobra para errar. Também há famílias que querem os jovens sempre no ninho, não querem nem ouvir falar em emigrar, sofrem mais do que os próprios. Eu idealizo o que quero fazer para o resto da vida, que profissional me tornarei e vou dar tudo de mim para lá chegar, só não quero é estagnar, se tiver de ir para o mundo irei, com pesar de cá deixar os meus. Nada é definitivo, Portugal não dá valor a nada do que tem, incluindo os seus cientistas, ser alguém lá fora e voltar é possível e mais comum na ciência do que em qualquer outra área, é mais fácil aceder a bolsas de doutoramento no resto da Europa do que neste cantinho. Mas antes de pensar numa hipótese para já tão remota vou-me concentrar no agora e nesta conquista.